REGICÍDIO DE 1 DE FEVEREIRO DE 1908
ALBANO MENDES DE MATOS
A morte de El-Rei D. Carlos I, cujo centenário foi assinalado recentemente, ficou assinalada na Literatura Popular, como evidencia uma composição, denominada romance, cantada na aldeia de Alcaide (Fundão), por algumas pessoas idosas, especialmente por Laura Saraiva, antiga moleira, excelente cantora de romances e de modas tradicionais, que tinha na memória uma verdadeira biblioteca. No ano de 1987, do século passado, Laura Saraiva, com 100 anos, cantou a composição a seguir transcrita.
MORTE DE DOM CARLOS I
(Romance)
Nobre e velho Portugal,
Cheio da nossa paixão;
Numa dolorosa traição.
No dia primeiro de Fevereiro
Pelas cinco horas da tarde;
Assassinaram Sua Majestade,
Senhor Dom Carlos Primeiro.
Vindo este nobre cavalheiro,
Com toda a família real;
Entrando na capital,
Uma descarga lhe atiraram,
Numa onda de sangue,
Ao chão o levaram,
O pobre rei, coitado.
As intenções do malvado,
Saíram de uma multidão,
Com uma carabina na mão,
Ao príncipe descarregou,
Portugal logo de luto ficou
Cheio de dolorosa paixão.
À nobre e infeliz rainha
E ao infante Dom Manuel,
Numa tragédia tão cruel,
Que grande tristeza tinha,
No Arsenal da Marinha.
Ao povo lhe contarei,
Vindo El-Rei de Vila Viçosa,
Numa cena lastimosa,
Ali mataram o teu rei.
Ó que terrível emboscada,
Na Rua do Arsenal,
Em frente ao Ministério da Guerra,
Estão as flores de Portugal.
Estando o povo ajuntado,
Esperando as pessoas reais,
Soldados e oficiais,
Todos em linha formados.
Vêm, então, aqueles malvados,
Com a arma empunhada,
Cada qual bem carregada,
Cada um dos dois disparou,
Portugal de luto ficou,
Na terrível emboscada.
Foi o malvado de um caixeiro,
Alfredo Luís da Costa,
Sem mais acto e proposta,
Matou D. Carlos Primeiro.
Outro mais vil e traiçoeiro,
Atirou ao Príncipe Real,
Um corajoso oficial,
Deu-lhe também uma cutelada,
Sua vida foi prostrada
Na Rua do Arsenal.
Manuel Buiça, professor,
Dava escola no Arsenal de Lisboa,
Sem dúvida, a mais vil pessoa,
Um ingrato e vil traidor.
Mas quem mata o seu Senhor,
É mais vil que o pó da terra,
Onde a malvadez se encerra.
Em tão maldoso coração.
Estes atentados se dão
Frente ao Ministério da Guerra.
Para o Príncipe D. Luís,
Vinte e um anos contava,
A pouca sorte o esperava,
Numa morte tão desinfeliz.
Sua mãe ainda quis
Que recebesse a Santa-Unção,
Mas quando chegou o capelão,
Tinha dado os últimos suspiros,
Ambos receberam dois tiros,
Na mais horrenda traição.
Aquele pobre Dom Carlos,
Aquele grande ciddadão
Mataram-no com dois tiros,
Que mal fazia ele à Nação!
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