terça-feira, 29 de março de 2011

SANTO ANTÓNIO NA LITERATURA POPULAR TRADICIONAL



SANTO ANTÓNIO FAZ ACHAR AS COISAS PERDIDAS E GUARDA A AZEITONA






António de Bulhões nasceu em Lisboa em 1195 e morreu em Pádua, na Itália, em 1231. Frequentou a escola da Sé de Lisboa e, ingressando na vida religiosa, foi ordenado sacerdote no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.Tornando-se frade franciscano em 1220, foi missionário em Marrocos e na Itália. Dotado de elevados talentos de orador e pregador, sabedor e muito estudioso, São Francisco convida-o para ensinar Teologia em diversas escolas. Em 1227, foi nomeado ministro provincial no Norte de Itália, continuando a carreira de professor, em Pádua, até à sua morte. Foi proclamado doutor da Igreja, em 1946, pelo Papa Pio XII, por ter sido um notável teólogo e um insigne mestre em ascética e mística.


Santo António é um dos maiores santos populares, venerado por todo o país. Em 1934, foi declarado padroeiro de Portugal, contando-se relatos de muitos milagres atribuídos a este santo, como a sua figura foi objecto de algumas lendas populares. Diz a tradição que, ao ser proclamado santo pelo Papa, tocaram todos os sinos de Lisboa, sem que alguém os tangesse. Muito amado pelo povo, teve sempre uma grande presença na literatura tradicional popular e na religiosidade, contando-se inúmeras composições, como quadras, cantigas, responsos e romances, que ainda são cantados ou recitados, em diversas circunstâncias, especialmente nos festejos populares, organizados em sua hora.


Registam-se três responsos recolhidos em Casal da Serra (São Vicente da Beira): o primeiro a ser recitado para afastar o demónio e os males, o segundo para se encontrarem coisas perdidas e o terceiro para guardar as azeitonas, nos olivais.




Para afastar os males e achar coisas perdidas



Se milagre desejais,


Recorrei a Santo António;


Vereis fugir o demónio


E as tentações infernais.


Pela sua intenção


Foge o erro, a peste, a morte;


O fraco torna-se forte,


Torna-se o enfermo são.


Recupera-se o perdido,


Acaba-se a dura prisão;


E no meio de todo o furacão,


Cede o mar embravecido.


Todos os males humanos


Se desvanecem e retiram;


Contem-no os que viram,


Digam-no os Paduanos.




II


Santo António se alevantou,


Suas mãozinhas lavou,


Na sua varinha agarrou,


Seu caminho andou.


Encontrando Nosso Senhor,


O Senhor lhe perguntou:


- Aonde vais, António?


- Senhor, eu, para o Céu, vou!


E o Senhor lhe disse:


- Tu comigo não irás,


Tu, na terra, ficarás,


E todas as coisas


Que se perderem,


Todas, tu acharás!




Para guardar a azeitona




Santo António Pequenino,


Que anda pelos olivais,


A guardar a azeitoninha.


Que lha comem os pardais.


Sua azeitoninha por colher,


Seu azeitinho por fazer,


Para alumiar à Virgem Maria,


Que ela nos há-de valer.




Albano Mendes de Matos